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[Vídeo] Anime - Mayoiga & Aprenda sobre Jung e Campbell!

Coincidentemente, eu tinha acabado de ler O feiticeiro e a sombra, de Ursula Le Guin e pesquisar sobre Carl Gustav Jung quando assisti o anime The Lost Village (Mayoiga). O anime original de 12 episódios foi um dos destaques da temporada de primavera de 2016 e é dirigido por Mizushima Tsutomu (Another, Shinryaku!, Ika Musume, 2010; Girls und Panzer, 2012; Shirobako, 2014; Kangoku Gakuen, 2015). Mas o que um desenho animado japonês, além de jogos como Persona e Silent Hill, tem a ver com psicologia e literatura? Como essa série resgata o conceito de sombra de Jung? Esse é o duelo de hoje.

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O tema do encontro com o seu outro eu, não é novo no mundo das artes e, segundo Joseph Campbell, já aparecia nas lendas e mitos clássicos de todo o mundo. Como exemplos temos Dr. Jekyll e Mr. Hyde, Dr. Frankenstein e sua criatura, Frodo e Gollum...

O médico, psicólogo e psiquiatra Carl Gustav Jung, discípulo de Freud, cunhou o termo “sombra” para se referir aos aspectos reprimidos ou ocultos de nós mesmos, sejam eles positivos ou negativos. Lembre-se que no anime Mayoiga, as personagens viajam até o vilarejo Nanakimura, onde suas cicatrizes emocionais ou traumas assumem forma física. Vejam que o rapper Yotsun, oriundo de uma família de musicistas clássicos, enxerga um monstro sem pernas ou mãos e só uma boca gigantesca daí que sua sombra estava relacionada à aceitação da sua profissão que seria diferente da dos pais. Por fim, segundo Ursula K. Le Guin, a sombra é o outro lado da nossa psique, tudo que nós não queremos ou não podemos aceitar em nós mesmos. Rejeitada pelo consciente, a sombra é projetada nos outros: “não há nada de errado comigo – são eles!”. Entretanto, quanto mais um individuo ignorá-la, mais forte e negra ela se torna, por isso é preciso admitir que isso tudo está dentro de você. Não é fácil, mas é gratificante, pois, assim, o sujeito cresce em direção ao auto-conhecimento e criatividade.


Na franquia Persona, por exemplo, o encontro com a sombra é essencial, visto que ao aceitá-las e assimilá-las se tornam mais fortes em batalha. Também em Mayoiga, você não pode viver sem seu nanaki: se ficar na vila sem aceitá-la, irá gradualmente perder a vontade de viver e deixar de ser completamente humano; se fugir sem levar seu nanaki consigo, tamém envelhecerá rapidamente até a morte. Pelo contrário, se você for capaz de aceitar seu nanaki, ganhará imediatamente a liberdade e poderá voltar para a realidade, enfrentando o mundo e vivendo livre, apesar dos medos e carências que nos fazem humanos. Ambos William Wilson e Dorian Gray tentaram se livrar de suas sombras apenas para encontrar a morte.

Na esteira das pesquisas de Jung, Joseph Campbell explica a jornada do herói em seu livro O herói de mil faces: o protagonista recebe um chamado para a aventura, atravessa o umbral indo em direção a outro mundo, enfrenta perigos, passa pela provação máxima, cumpre a missão e volta ao seu mundo como uma pessoa transformada, novinha em folha.


Essa trama vem sendo repetida por séculos e representa o amadurecimento do herói no confronto do consciente com o inconsciente. Isso acontece também em Silent Hill, por exemplo: através de um ritual mágico, eles chegam a um outro mundo onde seus maiores medos tomam forma, enfrentam monstros, e, no final bom do jogo, o protagonista ressurge como uma pessoa melhor ao enfrentar, vencer e aceitar seu inconsciente. Interessante que em pleno século 21, continuamos a viver o monomito, ou a jornada do herói, dos mitos antigos em direção ao auto-conhecimento. Se "Todos nós saímos do capote de Nikolai Gógol", então eu digo: todos nós viemos de Nanakimura.
Olhar nosso outro eu, olhar nosso inconsciente é o modo doloroso de cumprirmos a recomendação inscrita no Templo de Apolo, em Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. A sombra encerra o terror de sermos quem somos.

Para saber mais:
A jornada do herói (Vídeo legendado)

By Geisy N.
Mayoiga" (Episódios online)

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