Ishida Shouya intimidou a menina surda, Nishimiya Shouko, a tal ponto que ela saiu de sua escola. Ele entende as consequências de suas ações, mas já é tarde demais: dessa vez, ele é quem é condenado ao ostracismo, sem amigos com os quais falar e sem planos para o futuro. Determinado a concertar os relacionamentos passados, 5 anos depois, Shouya encontra Shouko de novo. Esta é a história de sua busca por redenção.
Koe no Katachi é um filme animado e produzido pela Kyoto Animation, lançada no Japão em 17 de setembro de 2016. Foi baseado no mangá de mesmo nome, escrito e ilustrado por Yoshitoki Ōima. Uma história fantástica que trata de forma leve e sensível alguns temas atualíssimos que representam uma cruel realidade do mundo de hoje: além de amizade e amor, fala de bullying, deficiência física e suicídio.
No ensino fundamental, Ishida Shouya era o típico garoto levado cheio de amigos e, quando Nishimiya Shouko se transferiu para sua sala, os motivos que o levou a atormentá-la foi o estranhamento com relação a surdez e, principalmente, a reação de seus colegas. Tudo dito e feito, os amigos o abandonaram e ele acabou levando a culpa de tudo sozinho. Mesmo no ensino médio, o passado ainda joga sombras nos corações de Ishida e Nishimiya. Felizmente, juntos, eles serão capazes de seguir adiante e perceber que não estão sozinhos.
O papel da escola
No filme e mangá Koe no Katachi percebe-se que a comunidade escolar não só não estava totalmente preparada para receber Nishimiya Shouko, como também falharam em lidar com a questão do bullying.
(Lembre-se: um mangá é lido da direita para a esquerda.)
Com relação aos alunos especiais, não adianta culpar apenas o professor: é preciso que família, escola, diretoria de ensino, junta médica etc todos trabalhem juntos para garantir a integração e aprendizado dos alunos. É também necessário oferecer cursos de formação específico aos educadores e criar e garantir a eficiência das políticas públicas. Ir para a escola é um direito garantido por lei e existem diversas medidas que podem ser tomadas caso ele seja negado ou existam quaisquer problemas. Confira o documento preparado pelo Ministério da Educação sobre surdez aqui e outro pela Prefeitura de São Paulo sobre a educação de surdos no Brasil aqui.
Apesar do termo bullying ter se popularizado e todos concordarem que se trata de algo ruim, isso não significa que ele tenha deixado de existir. No trabalho de prevenção e atendimento ao bullying, o agressor precisa de tanta atenção quanto a vítima. Ambos precisam de ajuda ou podem haver consequências até na vida adulta.
Esteriótipos sobre a surdez no cinema
Quem foi que disse que o Brasil é o país (só) do futebol, toda loira é burra ou mulher no volante é perigo constante? Estereótipo é uma imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação. Sua aceitação é tida como senso comum e pode gerar preconceito e discriminação.
Cabe perguntar: como os surdos são narrados no cinema e quais as consequências disso?
Em Koe no Katachi, Nishimiya Shouko é retratada como uma garota frágil, vítima de bullying e isolada devido a sua surdez e com tendências suicidas, mas alcança a maturidade e começa a encarar as coisas de frente. No fim, ela se integra no mundo dos seus amigos ouvintes, pouco a pouco melhora seu domínio da língua oral e eles vão se comunicando um com o outro por língua de sinais, por texto escrito ou leitura labial. Em síntese, este é mais outro romance de formação, onde dois protagonistas superam desafios e crescem com a jornada. Apesar de uma ser garota, o outro garoto, uma ser surda, o outro não, esse casal tem mais semelhanças do que diferenças e isso é extremamente positivo, pois visa também aproximar o telespectador ouvinte da protagonista. É como se, independente das nossas particularidades, somos todos humanos que sofrem e superam as mágoas para seguir em frente.
Infelizmente nem todo filme pode ser interpretado assim. Ás vezes, por trás de uma mensagem bonita se esconde mais e mais preconceito.
Segundo Adriana da Silva Thoma, o cinema pode produzir conhecimento, fixar identidades e instaurar sentidos sobre os sujeitos. Para isso, os filmes são constituídos de uma intertextualidade de saberes (medicina, filosofia, antropologia, pedagogia etc) sobre os surdos que não são neutros, unânimes e nem verdades absolutas. Os discursos presentes em muitos dos filmes que a pesquisadora analisou são derivados de saberes que, em geral, falam de sujeitos patológicos, anormais, sujeitos a corrigir. Como saber e poder tem tudo a ver, espalhar essa ideia, na verdade, revelam segundas intenções de se estabelecer uma hierarquia dos ouvintes sobre os surdos. Ora os filmes falam dos sujeitos surdos como incapazes, incorrigíveis, anormais, ignorantes, primitivos, ora nos falam de surdos que, apesar da surdez, são recompensados por outros sentidos que os tornam capazes, corrigíveis, normalizáveis, inteligentes, civilizados. Essas flutuações devem ser colocadas sob suspeita, problematizadas e analisadas quanto aos efeitos que delas resultam em cada um de nós.
Preste bem atenção e reflita sobre o que vê quando assistir a um filme. Todo sujeito é especial, inferiorizar ou glorificar alguém por causa da surdez vai gerar esteriótipos e igualmente trazer consequências.
No ensino fundamental, Ishida Shouya era o típico garoto levado cheio de amigos e, quando Nishimiya Shouko se transferiu para sua sala, os motivos que o levou a atormentá-la foi o estranhamento com relação a surdez e, principalmente, a reação de seus colegas. Tudo dito e feito, os amigos o abandonaram e ele acabou levando a culpa de tudo sozinho. Mesmo no ensino médio, o passado ainda joga sombras nos corações de Ishida e Nishimiya. Felizmente, juntos, eles serão capazes de seguir adiante e perceber que não estão sozinhos.
O papel da escola
No filme e mangá Koe no Katachi percebe-se que a comunidade escolar não só não estava totalmente preparada para receber Nishimiya Shouko, como também falharam em lidar com a questão do bullying.
(Lembre-se: um mangá é lido da direita para a esquerda.)
Segundo Rogers, todo aluno está potencialmente preparado para aprender.
Na cena acima, o professor da turma quer excluir Nishimiya Shouko da competição de canto por que erroneamente acha que ela não é capaz de aprender; já a professora de música irá simplesmente mencionar a deficiência na frente dos jurados esperando pena. Ambos só queriam "jogar o problema debaixo do tapete" e falharam em atender o desejo/direito dela de estudar.
Com relação aos alunos especiais, não adianta culpar apenas o professor: é preciso que família, escola, diretoria de ensino, junta médica etc todos trabalhem juntos para garantir a integração e aprendizado dos alunos. É também necessário oferecer cursos de formação específico aos educadores e criar e garantir a eficiência das políticas públicas. Ir para a escola é um direito garantido por lei e existem diversas medidas que podem ser tomadas caso ele seja negado ou existam quaisquer problemas. Confira o documento preparado pelo Ministério da Educação sobre surdez aqui e outro pela Prefeitura de São Paulo sobre a educação de surdos no Brasil aqui.
Apesar do termo bullying ter se popularizado e todos concordarem que se trata de algo ruim, isso não significa que ele tenha deixado de existir. No trabalho de prevenção e atendimento ao bullying, o agressor precisa de tanta atenção quanto a vítima. Ambos precisam de ajuda ou podem haver consequências até na vida adulta.
Esteriótipos sobre a surdez no cinema
Quem foi que disse que o Brasil é o país (só) do futebol, toda loira é burra ou mulher no volante é perigo constante? Estereótipo é uma imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação. Sua aceitação é tida como senso comum e pode gerar preconceito e discriminação.
No canto direito, o marido da irmã de Ishida Shouya. Olha só como é representado o único personagem brasileiro do filme Koe no Katachi.
Cabe perguntar: como os surdos são narrados no cinema e quais as consequências disso?
Em Koe no Katachi, Nishimiya Shouko é retratada como uma garota frágil, vítima de bullying e isolada devido a sua surdez e com tendências suicidas, mas alcança a maturidade e começa a encarar as coisas de frente. No fim, ela se integra no mundo dos seus amigos ouvintes, pouco a pouco melhora seu domínio da língua oral e eles vão se comunicando um com o outro por língua de sinais, por texto escrito ou leitura labial. Em síntese, este é mais outro romance de formação, onde dois protagonistas superam desafios e crescem com a jornada. Apesar de uma ser garota, o outro garoto, uma ser surda, o outro não, esse casal tem mais semelhanças do que diferenças e isso é extremamente positivo, pois visa também aproximar o telespectador ouvinte da protagonista. É como se, independente das nossas particularidades, somos todos humanos que sofrem e superam as mágoas para seguir em frente.
Infelizmente nem todo filme pode ser interpretado assim. Ás vezes, por trás de uma mensagem bonita se esconde mais e mais preconceito.
Segundo Adriana da Silva Thoma, o cinema pode produzir conhecimento, fixar identidades e instaurar sentidos sobre os sujeitos. Para isso, os filmes são constituídos de uma intertextualidade de saberes (medicina, filosofia, antropologia, pedagogia etc) sobre os surdos que não são neutros, unânimes e nem verdades absolutas. Os discursos presentes em muitos dos filmes que a pesquisadora analisou são derivados de saberes que, em geral, falam de sujeitos patológicos, anormais, sujeitos a corrigir. Como saber e poder tem tudo a ver, espalhar essa ideia, na verdade, revelam segundas intenções de se estabelecer uma hierarquia dos ouvintes sobre os surdos. Ora os filmes falam dos sujeitos surdos como incapazes, incorrigíveis, anormais, ignorantes, primitivos, ora nos falam de surdos que, apesar da surdez, são recompensados por outros sentidos que os tornam capazes, corrigíveis, normalizáveis, inteligentes, civilizados. Essas flutuações devem ser colocadas sob suspeita, problematizadas e analisadas quanto aos efeitos que delas resultam em cada um de nós.
Preste bem atenção e reflita sobre o que vê quando assistir a um filme. Todo sujeito é especial, inferiorizar ou glorificar alguém por causa da surdez vai gerar esteriótipos e igualmente trazer consequências.
Confira outras diferentes histórias de protagonistas surdos aqui no blog em Hidamari ga Kikoeru: Theory of Happiness e Together Forever.
Títulos: Koe no Katachi, A Silent Voice, The Shape of Voice, 聲の形
Estúdios: Kyoto Animation
Gênero: Drama, Romance, Escolar, Shounen
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