Conheça William Blake, o escritor e gravador que já foi chamado de louco, visionário, violento, religioso e, sobretudo, considerado um dos maiores poetas do Romantismo inglês. Canções da Inocência e da Experiência - Revelando os dois estados opostos da alma humana traz poemas sobre a criança e o sábio, a alegria e a miséria, a luz e as sombras, as bênçãos e as maldições. O que se depreende desses opostos é que a inocência implica um conhecimento da experiência e vice-versa, que a condição humana se estrutura desses dois estados ou "paisagens" contrárias da alma. Como diz o autor, “Sem Opostos não há progresso”.
Assista o vídeo do nosso canal!
Transcrevemos abaixo os poemas citados no vídeo, acompanhados da devida gravura desenhada pelo próprio William Blake:
“A Mosca” (trad. de Regina de Barros Carvalho)
- Canções da Experiência
Minimosca
Teu giro de verão
Minha mão à toa
Desmanchou
Não sou eu
Mosca também?
Ou não és,
Como eu, ninguém?
Pois eu danço
E bebo e canto
Até que brusca mão
Me espanta.
Se pensamento
É ar no peito
E se é morte
Perdê-lo,
Então sou
Mosca feliz
Se eu vivo
Ou se vou.
“O Limpador de Chaminés” (trad. de Mário Alves Coutinho; Leonardo Gonçalves)
- Canções da Inocência
Quando mamãe morreu eu era bem moleque,
E ao vender-me meu pai, minha língua a custo é que
gritava 'arre 'arre 'arre 'arre-dor:
Durmo em fuligem, das chaminés sou varredor.
O pequeno Tom Dacre chorou ao ser raspado
Seu cabelo tal qual de um cordeiro, anelado.
Eu disse. Calma, Tom, deixa, sem os cabelos
Ao menos a fuligem não poderá tê-los.
Se acalmou, & naquela mesma noite então,
Quando ele adormeceu, surgiu-lhe uma visão,
Dick, Joel, Ned, Jack, e milhares de varredores,
Em negros ataúdes trancados, sem dores,
Com chave luminosa um anjo apareceu
E abriu-os, livrando cada menino do seu.
Riam e saltitavam, desciam o vale,
Para lavar-se num rio e ao sol brilharem.
Então, nus, brancos, todas as bolsas deixadas,
Subiram para as nuvens, brincaram nas vagas
Do vento. E o Anjo disse ao Tom: Se fores bom
Menino, terás Deus por pai, & alegria por dom.
Tom acordou e no escuro nos levantamos
Pegou bolsas e escovas do nosso ramo.
Tom se foi na manhã fria, alegre e aquecido.
Não há nada a temer, se o dever é cumprido.
“O Limpador de Chaminés”
- Canções da Experiência
Na neve um ponto negro vai
Chorando ‘arre, ‘arre em tom de ai!
Onde seu pai & sua mãe hão de estar?
Sei. Foram ambos à igreja rezar.
Porque feliz entre urzes me mostro,
E sorrio sob a neve que cai:
Me vestiram as vestes da morte,
E me ensinaram o canto em tom de ai.
E porque, alegre cantei & dancei,
Eles pensam que não me ferem:
E vão louvar a Deus & seu Padre & o Rei
Que criam um Céu da nossa miséria.
"A Imagem Divina"
- Canções da Inocência
À Compaixão Pena Paz e Amor,
Todos oram em seus medos:
E a estas virtudes de deleite
Rendem agradecimentos.
Pois Compaixão Pena Paz e Amor,
São Deus nosso pai amado:
E Compaixão Pena Paz e Amor,
São o Homem, filho e cuidado.
Compaixão tem coração humano,
Pena tema humana face:
E Amor, divina forma do humano,
Vestes humanas a Paz.
E todo o homem que em sua angustia reza,
Seja ele de qualquer região,
Reza à divina forma do humano,
Amor Paz Pena Compaixão.
Que todos amem a forma humana,
Pagãos, turcos ou judeus.
Onde há Compaixão, Amor & Pena,
Lá também reside Deus.
Crueldade tem Coração Humano,
Ciúme uma Humana Aparência;
Terror, Divina Forma Humana,
Vestes Humanas, a Decência.
Veste Humana, é Ferro forjado,
Humana Forma, Forja ardente,
Rosto Humano, forno vedado,
Coração Humano, Goela apetente.
"O Estudante"
- Canções da Experiência
Amo acordar em uma manhã morna,
Nos galhos os passarinhos piam;
Longe o caçador sopra seu corne,
E canta comigo a cotovia.
Oh! que doce companhia.
Mas ir à escola numa manhã dessas,
Ó, acaba com toda alegria;
Sob um olhar que os detesta,
Os pequenos gastam o dia,
Suspirando de apatia.
Ah! Então às vezes abatido me assento,
E passo muitas horas ansiosas,
& com meu livro prazer não experimento,
Nem aguento da aula a prosa,
Exaurido com esta chuva grossa.
Pode o pássaro que nasce para o prazer,
Sentar numa gaiola e cantar?
Pode uma criança medo ter,
E sua delicada asa baixar,
E esquecer sua primavera sem par?
By Geisy N.
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